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Manipulação, short-selling e gatos. O fenómeno GameStop escrutinado no Congresso

Manipulação, short-selling e gatos. O fenómeno GameStop escrutinado no Congresso

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Manipulação, short-selling e gatos. O fenómeno GameStop escrutinado no Congresso

Quando em abril do ano passado, Keith Gill, sentado na sua cadeira vermelha de onde grava vídeos para o Youtube, decidiu fazer um investimento de 50 mil dólares na GameStop, provavelmente não teria pensado que, cerca de dez meses depois, estaria a ser ouvido no Congresso dos Estados Unidos sobre o caso. É que o investidor de 34 anos esteve por trás da corrida às ações da empresa, devido a uma concertação na rede social Reddit – onde Gill assina como “Eu não sou um gato, nem um ‘hedge fund’”, começou por dizer Gill, no mesmo fundo em que grava vídeos para o Youtube com as suas práticas de investimento, enquanto bebe cerveja, através da conta com nome de utilizador “Roaring Kitty”. No plano em que fala ao comité dos serviços financeiros da Câmara dos Representantes, ao fundo, surge um cartaz de um gato com a fita vermelha que costuma aparecer nos vídeos. Nesta audição, que juntou “hedge funds”, a corretora Robinhood e outros intervenientes, tentava-se perceber se houve ou não manipulação de preços e de que forma agiram todos os atores desta história. As ações da retalhista de videojogos começaram o ano de 2021 a negociarem nos 18,84 dólares por ação e menos de um mês depois estavam a cotar nos 480 dólares. A escalada foi coordenada por milhões de investidores amadores, organizados no Reddit, numa tentativa de “ataque” a vários “hedge funds” que queriam a queda de várias cotadas, onde se incluía a GameStop. As ações desta empresa subiram 15.000% em nove meses.

Entre os questionados nesta audiência estava Steve Huffman, líder do Reddit, que começou logo por dizer que “neste caso específico não vimos nenhum sinal de manipulação”, acrescentando que o Reddit é “o lugar mais humano da Internet”. Huffman defendeu a atividade no fórum Wall Street Bets como “dentro dos parâmetros normais”. “O WallStreetBets pode parecer caótico visto de fora, mas o facto de estarmos aqui hoje significa que eles conseguiram levantar questões importantes sobre justiça no nosso sistema financeiro “, afirmou. Outras das pessoas ouvidas nesta audiência foi Jennifer Schulp, diretora de regulação financeira do Cato Institute, que defendeu que as novas oportunidades para as pessoas ganharem dinheiro “devem ser bem-vindas e ampliadas”, adiantando que o fenómeno GameStop não representa um “risco sistémico” para o mercado. Apesar de todo o escrutínio por parte dos membros do comité, a audição não conseguiu ainda trazer nenhuma nova informação sobre a possível manipulação e falta de transparência nos mercados financeiros nos Estados Unidos. 

Limites do “Short Selling” Acusado de também tentar manipular o preço da GameStop, através do “short-selling” que detinha na empresa, Gabe Plotkin – líder do Melvin Capital – disse que as posições curtas na retalhista de videojogos foi “excepcional” e que não tem “a certeza se vale a pena estarmos a afrofundar correções legislativas” devido a esta situação em particular, em termos do tamanho possível de “short-selling”.
Em abril do ano passado, a empresa anunciava o fecho de lojas em todo o mundo, devido à pandemia, e a expectativa sobre a sua falência em bolsa era tão grande que o peso do “short-selling” na cotada, em dezembro do ano passado, chegou a ser de 140%. O que significa que a cada ação a favor da GameStop havia 1,4 ações a apostar na sua queda.Plotkin foi questionado sobre se “shortar” mais ações do que aquelas que existem não será manipulação do preço dessa ação e respondeu, fugindo à pergunta, que “‘shortam’ sempre ações dentro do contexto de todas as regras”. 

O movimento pode explicar-se, neste caso, da seguinte forma: os fundos de investimento pediram ações emprestadas da GameStop aos bancos, pagando um juro sobre esta operação, e venderam-nas no imediato, mesmo sem as deterem. Depois, como a expectativa de uma queda é tão grande, esperam que os preços da cotação caiam para comprarem o mesmo volume de ações a um preço muito inferior, e voltam a entregá-las ao banco. No final, o lucro está na diferença entre o preço mais alto a que venderam a ação emprestada do banco e o preço idealmente mais baixo da venda posterior, aquando do retorno dessas ações ao banco.
Só que para que esta operação seja bem-sucedida é preciso que, efetivamente, os preços caiam. No caso da GameStop, os preços não só não caíram, como subiram em flecha (400% numa semana), devido a esta concertação de milhões de investidores que queriam provocar perdas a estes fundos de investimento. E esta técnica do “short-selling” é legal e, de acordo com vários analistas, traz dinâmica ao mercado. Mas o facto de se “shortarem” mais ações do que aquelas que existem, o chamado “naked short”, não é legal, mas continua a fazer-se nos Estados Unidos. 
Robinhood no “olho do furacão”A aplicação de “trading” Robinhood é uma das protagonistas deste fenómeno, sendo que foi através dela que muitas das ordens para comprar ações ou derivados da GameStop foram feitas. A corretora de Vladimir Tenev passou a estar no “olho do furacão” depois de ter bloqueado o acesso a novas ordens sobre a GameStop, deixando os investidores amadores apenas com duas opções: manter ou vender as suas posições.

Carolyn Maloney, democrata e membro do comité, disse que as ações da Robinhood, em limitar o acesso à entrada de novas ordens sobre a GameStop criaram “uma especulação e confusão”. Vladimir Tenev, líder da aplicação de trading RobinHood, pediu desculpa pelo que aconteceu e compremeteu-se a “melhorar com isto”, defendendo-se das acusações de que foi alvo de tornar Wall Street numa espécie de casino. Tenev diz que apenas 2% dos seus utilizadores são “day traders” – investidores que, tipicamente, provocam maior volatilidade nos mercados. “Contrariamente ao que tem sido escrito em vários jornais, a maioria dos nossos utilizadores são investidores de longo-prazo”, rematou.Uma das questões mais recorrentes nesta audição recaiu sobre se a Robinhood tinha ou não problemas de liquidez, depois de ter sido obrigada a várias injeções de capital no montante total de 3,4 mil milhões de dólares para servir de colateral e responder ao “clearing house”. 

Ken Griffin, líder da Citadel LLC, disse que a sua empresa não teve “qualquer impacto na decisão da Robinhood em limitar o trading na GameStop ou em outros meme stocks”. O mesmo afirmou Gabe Ploktin, líder da Melvin Capital, um fundo de investimento, dos vários que foram alvo deste ataque e que, em conjunto, perderam cerca de 12,5 mil milhões de dólares em janeiro, segundo os dados da Ortex. 
Críticas ao “payment for order flow”A Robinhood, assim como o Citadel – que opera enquanto “hedge fund” e “market maker” (que serve de intermediário entre corretoras e clientes), estiveram debaixo de uma onda de críticas contra a sua atuação nos bastidores. Isto porque as aplicações de “trading” como a Robinhood, atuam segundo “payment for order flow”. O representante Brad Sherman, democrata, sugeriu esta prática fosse examinada, uma vez que considera que muitos clientes destas corretoras não têm direito à chamada “best execution” ou seja, o caminho mais rápido e barato da sua ordem. “Todos os clientes estão a ser tratados de forma justa? E o “payment for order flow” é mesmo gratuito para o consumidor?”, questionou, sugerindo que possa haver algum tipo de conluio entre a Robinhood e a Citadel, uma vez que 55% das ordens feitas na corretora passam pelas mãos da Citadel, de acordo com o SEC, o regulador do mercado nos Estados Unidos. Vladimir Tenev defendeu-se, alegando que a maioria das “best execution” são oferecidas pela Citadel. Quando tal não acontece, Tenev disse que a sua empresa procura outras alternativas. Como é que o “payment for order flow” funciona? Imaginemos que o fluxo de ordens é o trânsito de uma cidade e o destino é o mercado. O principal objetivo destas ordens é chegar pelo melhor caminho possível (“best execution”). Então, quando um cliente pede para executar uma ordem, a corretora deve encontrar o trajeto mais eficiente.

Só que, neste percurso, pode existir um acordo que obriga a corretora a chamar uma terceira parte para encontrar esse melhor trajeto. Este terceiro é o “market maker” ou o intermediário, que vai compensar a corretora, através de uma taxa, por lhe ter “encomendado” este pedido, o que acaba por beneficiá-la – por norma através de comissões cobradas ao cliente, incorporadas já no preço das ações. Significa isto que, apesar de não cobrar comissões, a Robinhood está a ser acusada de cobrar um preço mais alto nas ordens dos clientes, de forma a compensar o facto de não cobrar comissão. Esta prática rendeu à Robinhood qualquer coisa como 687 milhões de dólares em 2020, de acordo com os ficheiros do SEC, que investigou a aplicação de “trading” por tentar enganar os seus clientes sobre garantirem “zero comissões”, mas aumentarem os preços dos ativos. Uma operação que terminou numa coima de 65 milhões de dólares, em dezembro, para a Robinhood.Brad Sherman, democrata, quis saber se um cliente da Robinhood teria direito ao mesmo preço por uma ordem intermediada pelo Citadel, do que uma ordem intermediada pela Fidelity (outro “marker maker”). Ken Griffin, líder do Citadel, acabou por não responder diretamente à questão do membro do comité. 


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