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Um país, oito bancarrotas: Conheça os colapsos da Argentina – Economia

Um país, oito bancarrotas: Conheça os colapsos da Argentina - Economia

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Um país, oito bancarrotas: Conheça os colapsos da Argentina – Economia

1827

Depois de declarar independência da Espanha em 1816, a economia da Argentina abriu-se rapidamente ao comércio exterior. Alguns historiadores referem-se ao início da década de 1820 como a “experiência feliz” do país, um período de paz, prosperidade e fascínio pela aristocracia europeia. Esse período durou pouco. A Argentina tinha vendido títulos em Londres para ajudar a financiar a construção da nação. A dívida foi pressionada quando o Banco da Inglaterra elevou as taxas de juro em 1825. A Argentina deixou de pagar a dívida dois anos depois. E levou mais de 30 anos para retomar os pagamentos.
 
Foto superior: Argentina declara independência da Espanha.Foto à esquerda: Ilustração em inglês da bandeira de Buenos Aires, 1838.Foto à direita: Banco da Inglaterra em Londres, 1828.


1890

No final do século XIX, a Argentina iniciou uma onda de empréstimos para fabricar comboios e transformar Buenos Aires na capital cosmopolita de hoje. O Barings Bank, de Londres, investiu fortemente nas ferrovias do país e noutros projetos de serviços públicos. O sul da Argentina também se expandiu, com a criação de ovelhas espalhada por campos da Patagónia e garimpeiros em busca de ouro na Terra do Fogo. A euforia desapareceu quando a bolha das matérias-primas estourou. O país suspendeu o pagamento da dívida, provocando uma corrida aos bancos argentinos e a renúncia do presidente Miguel Juárez Celman. Naquele novembro, o Barings estava à beira da falência. A Argentina saiu de default quatro anos depois, impulsionada por capital novo do Reino Unido.
 


1951

Um fluxo de imigrantes e capital estrangeiro impulsionou a ascensão da Argentina como um dos países mais prósperos do mundo no início do século XX. Mas a Primeira Guerra Mundial atingiu em cheio a economia do país, assim como a Grande Depressão que se seguiu uma década depois. O desemprego e a convulsão social eclodiram. Em 1930, um golpe trouxe os militares ao poder, inaugurando um período de instabilidade – oito presidentes em duas décadas – e uma política de substituição de importações, que fechou a economia e ajudou a levar a um default.


1956

Juan Perón assumiu o poder em 1946 e começou a nacionalizar empresas, redistribuir riqueza e exercer maior controlo do governo sobre a economia. As políticas executadas em conjunto com a esposa, Evita, tornar-se-iam o princípio dominante de governo da Argentina por aproximadamente metade das próximas sete décadas. Inicialmente, as políticas estimularam o crescimento e a ascensão da classe média. Mas, em 1955, Perón foi deposto num golpe de estado, mergulhando a economia num período de turbulência e dificultando o pagamento das dívidas. No ano seguinte, a junta militar fechou um acordo com o Clube de Paris dos países credores para evitar um default maior.
 
Foto superior à esquerda: Juan e Eva Perón acenam para a multidão, 1951.Foto superior à direita: pessoas pisam um busto de Juan Perón.Foto inferior à direita: edifícios destruídos por tanques do Exército durante a revolta de 1955.Foto inferior à esquerda: partidários de Perón reunidos em frente ao palácio presidencial, 1948.Fonte: Getty Images.


1982

Durante a Guerra Suja da Argentina, a ditadura militar tomou empréstimos, principalmente de bancos americanos e britânicos, para financiar projetos de infraestrutura e indústrias estatais. A dívida externa do país deu um salto de 8 mil milhões de dólares para 46 mil milhões de dólares. Mas os preços das matérias-primas caíram novamente quando a Reserva Federal, sob o comando de Paul Volcker, elevou as taxas de juros dos EUA para 20% para controlar a inflação, desencadeando crises de dívida na América Latina e no resto do mundo em desenvolvimento. A Argentina tornou-se um dos 27 países, incluindo 16 na América Latina, que reestruturaram a dívida.


1989

Uma série de tentativas fracassadas no final da década de 1980 para segurar a inflação – que disparou mais de 3.000% – provocou outro default em 1989 e levou o líder peronista Carlos Menem ao poder. O seu governo reduziu a inflação, privatizou empresas estatais e atraiu investimento estrangeiro direto, levando o país da recessão a um crescimento de dois dígitos no fim do segundo ano do mandato de Menem. Ainda assim, a dívida externa da Argentina subiu para mais de 100 mil milhões de dólares, resultado da incapacidade de Menem em controlar a despesa pública. Quando deixou o poder, o país tinha entrado novamente em recessão com desemprego em alta, exportações limitadas e um peso sobrevalorizado.


2001

Quando a brutal recessão entrou no quarto ano, corroendo cerca de dois terços do PIB do país, os argentinos protestaram. O país teve cinco presidentes em duas semanas e declarou o que foi, na época, o maior default de todos os tempos de um país. A Argentina suspendeu o pagamento de 95 mil milhões de dólares em títulos. O default levou a acordos de reestruturação com credores em 2005 e em 2010 sob o comando de Néstor Kirchner e de sua esposa, Cristina Kirchner. A maioria dos credores concordou em aceitar os 30 cêntimos de dólar oferecidos, mas um grupo liderado pelo bilionário de hedge funds Paul Singer rejeitou a proposta e exigiu o reembolso total.


2014

Assombrada por uma batalha jurídica com Singer e outros credores que rejeitaram a proposta, a Argentina declarou outro default, embora em menor escala. O governo de Cristina Kirchner deixou de fazer um pagamento de juros depois de um juiz dos EUA ter decidido que a Argentina não poderia distribuir os fundos a menos que a Elliott Management, de Singer, e outros chamados “fundos abutres” recebessem o valor devido. A disputa foi finalmente resolvida em 2016, quando o novo presidente, Mauricio Macri, pagou os credores que haviam rejeitado a reestruturação para que a Argentina pudesse recuperar acesso aos mercados internacionais de dívida.
 
Foto superior: Cristina Kirchner e Paul Singer.Foto inferior: Cartazes de protesto contra os “fundos abutres”.Fonte: Getty Images
 


Crise atual

Hoje, Cristina Kirchner está prestes a suplantar Macri na Casa Rosada, desta vez como vice-presidente de Alberto Fernández, que foi seu primeiro chefe de gabinete. A vitória esmagadora da oposição nas eleições primárias do mês passado provocou um colapso do peso, ações e títulos que acabaram por obrigar Macri a impor controlos sobre o mercado de câmbio – que ele orgulhosamente havia suspendido apenas alguns dias depois de assumir o poder em 2015 – e propor um adiamento do reembolso de dívida.
 
A incapacidade de Macri em controlar a inflação e estimular o crescimento foi acausa imediata da crise, mas as bases têm origem há uma década, quando Cristina Kirchner desperdiçou o excedente acumulado com a valorização das matérias-primas, estrangulou a economia com uma série de controlos do governo e manipulou dados. Traders preveem que um default será a inevitável conclusão quando o novo governo assumir em dezembro: os títulos internacionais do país, com valor nominal de 1 dólar, podem ser comprados hoje por apenas 40 cêntimos de dólar.

A Argentina está, segundo quase todos os dados disponíveis, a caminhar rumo a um default depois de acumular mais de 100 mil milhões de dólares em dívidas. Alguns dizem que faltam apenas alguns meses. Outros afirmam que, na verdade, já aconteceu em uma pequena quantidade de títulos de dívida. Até mesmo para o observador casual, tudo tem uma certa sensação de déjà vu. A nação sul-americana é uma máquina de bancarrotas com poucos rivais no mundo. O primeiro episódio ocorreu em 1827, apenas 11 anos depois da independência. O mais recente, em 2014. Neste meio tempo, ocorreram outros seis de diferentes dimensões e formas, segundo Carmen Reinhart, economista da Universidade Harvard. Quase todos foram precedidos por períodos de crescimento, como, talvez o mais famoso, quando migrantes europeus transformaram a Argentina numa potência agrícola e num dos países mais ricos do mundo no final do século XIX. Invariavelmente, gastos extravagantes, combinados com acesso fácil ao capital fornecido por credores estrangeiros excessivamente zelosos, fizeram com que o país entrasse em colapso. “A grande narrativa é sempre que não há disciplina orçamental”, disse Benjamin Gedan, diretor do Projeto Argentina no Wilson Center, em Washington. “Eles querem importar produtos que exigem dólares, gastam demais e assumem empréstimos em dólares e não geram dólares porque têm uma economia fechada. E, assim, é este ciclo sem fim. É sempre a mesma história.” Confira em cima os principais factos que marcaram os oito defaults da Argentina e o que pode vir a seguir.


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